quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"Feminilidade" (Sigmund Freud, Conf. XXXIII, Vol. XXII, 1932/33)

       Logo no início deste texto, Freud discorre sobre as diferenças anatômicas do homem e da mulher, atentando para o fato de que partes do aparelho sexual masculino aparecem também na mulher de modo atrofiado e vice versa. Sendo assim, ele diz que, com base no pensamento da anatomia e da biologia, todo ser humano é homem e mulher ao mesmo tempo em graus diferenciados. 
       Freud ressalta que o pensamento da anatomia é limitado e inicia uma busca de desenvolvimento conceitual a partir da psicanálise.  O teórico faz, então, uma crítica à distinção e equiparação, vinda das ciências biológicas, do conceito de masculino com a atividade e da feminilidade como a passividade.               
        A partir disso, o pai da psicanálise estabelece o conceito de feminilidade a partir de uma leitura psicanalítica: esta elaboração diz respeito às metas passivas, que se diferenciam da passividade, pois precisam, antes, de uma dose de atividade para serem alcançadas. O autor desenvolve ainda o conceito de masoquismo como associado ao feminino, pois a agressividade da mulher é voltada para dentro em decorrência das exigências sociais. Mesmo no homem, a partir disso, o masoquismo é, então, visto como um traço feminino. 
       Depois dessa distinção conceitual, Freud inicia a teorização acerca do desenvolvimento feminino. Ele pontua que, em um primeiro momento, as diferentes fases da libido são iguais para ambos os sexos. As diferenças começam a surgir na fase fálica. Há dois fatores complicadores nesta fase  no que se refere ao desenvolvimento feminino em comparação ao masculino. 1) A substituição de objeto de satisfação sexual. 2) O objeto de amor do complexo de Édipo. Na primeira, o que ocorre é que o clitóris, objeto de prazer sexual, precisa ceder à vagina a função principal no aparelho sexual feminino. Em comparação, no desenvolvimento masculino o objeto continua sendo o pênis. E, a segunda, é a transferência do afeto da mãe para o pai. No desenvolvimento masculino o objeto de afeto era a mãe e continua sendo a mesma. É importante ressaltar que o primeiro objeto de afeto de ambos é a mãe. 
       Essas mudanças tem uma série de implicações. Entre elas, o afastamento da mãe, pela menina, é um ato que está envolto de hostilidade. Ela tende a passar apresentar diversas queixas e acusações contra a mesma, o que inclusive pode ter consequências nos desenvolvimentos posteriores e até mesmo na vida adulta. Uma parte importante deste comportamento hostil ocorre quando, durante o período fálico quando a mãe proíbe a criança de praticar atividades masturbatórias com seus genitais. No período pré-édipico a mãe tende a estimular os mesmos através de carícias. Freud ressalta que, apesar de importante, este não é um ponto de distinção entre meninos e meninas, pois ocorre de forma igual para ambos os sexos. 
       O principal ponto de distinção da feminilidade encontra-se na elaboração do complexo de castração. Este se inicia, na menina, a partir da constatação de que algo a falta, o que a diferencia do menino no sentido de que ele teme a perda do pênis. Sendo assim, a constatação da falta, prepara o complexo de Édipo, e também não há um elemento que estabeleça a superação do mesmo. Retomando, é importante pontuar que no menino a ameaça da castração faz com que ele abandone o desejo pela mãe e supere o complexo de Édipo, na menina isso não ocorre. Como consequência, as mulheres podem ficar indefinidamente no complexo de castração. 
       Retornando ao início, com a entrada no complexo de castração, há três consequências possíveis: a inibição sexual ou neurose, que consiste em um recalcamento da sexualidade. Em uma renúncia a satisfação masturbatória com o clitóris e numa hostilidade em relação a mãe. Na segunda consequência, o complexo de masculinidade, há uma recusa da passividade, o que faz com que haja um posicionamento masculino e, em casos extremos, a escolha de objetos homossexuais. Na terceira, a feminilidade normal, o desejo de ter um pênis deve, então, ser substituído pelo desejo de ter um bebê. Este desejo faz com que se inicie o complexo de Édipo feminino, a dissolução desse complexo, ao contrário do que ocorre no masculino quando o menino, pelo temor da castração, renuncia ao amor pela mãe e instaura o superego, dá-se tardiamente, de forma incompleta, sem um fator específico, o que causa prejuízos à formação do superego. 
       Freud conclui o texto afirmando que a elaboração sobre a feminilidade ainda está, neste momento, incompleta e que necessita de novos estudos e novos desenvolvimentos. Ele diz que este recorte é visto no que diz respeito a função sexual e que há um ser humano para além disso e, por fim, conclama a literatura, ou a elaboração através de vivências pessoais como norte de novas respostas.
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Elaborado pela equipe de Monitoria em Psicanálise do curso de graduação em Psicologia da PUC/SP. Escrito por Antônio Alberto Almeida.