segunda-feira, 26 de março de 2012

"Terapia Analítica" (S. Freud, Conf. XXVIII, Vol. 16, 1916)

Freud introduz esta conferência comentando a respeito da sugestão como método de tratamento e seus efeitos. Estes equivaleriam aos efeitos de uma medicação psiquiátrica, já que seriam dirigidos contra a manifestação do sintoma. Em seguida, cita a hipnose, que teria como objetivo produzir efeitos semelhantes à sugestão, a partir de uma alteração do estado de consciência. Ele também afirma que o paciente pode perder a autoconfiança pelas repetidas hipnoses e ficar “viciado como se fosse um narcótico”. Tais observações impulsionaram-no a investigar por que a hipnose funcionava, já que as condições que permitiam um resultado favorável eram desconhecidas. Um paralelo entre hipnose e psicanálise começa a ser traçado, segundo o qual a psicanálise é colocada como se fosse uma cirurgia, e o tratamento sugestivo, um cosmético. A hipnose geraria melhoras mais rapidamente. Entretanto, Freud observa que a doença sempre retornava, ou que os sintomas eram deslocados. Então chega à conclusão de que os processos inconscientes que levavam à formação dos sintomas permaneciam presentes no psiquismo do sujeito. Dessa forma, a hipnose encobriria, então, a doença, e dependeria da capacidade de transferência do paciente, visto que o sucesso repousaria exatamente na sugestão. Se não bastasse, tal método proibiria os sintomas e fortaleceria as repressões, deixando o paciente vulnerável a adoecer novamente. Freud então coloca a sugestão como método da psicanálise, mas num sentido educativo, esta será como base para o andamento da análise. Afirma que a vida psíquica só pode ser modificada pelo trabalho de superação das resistências internas.


Um argumento feito por alguns críticos e rebatido por Freud é que estes afirmam que os dados clínicos não são confiáveis, já que se apoiam na transferência, de forma que aquilo que é vantajoso na clínica, não necessariamente é na teoria. A resposta de Freud é que os conflitos do paciente não podem ser resolvidos por meio da sugestão, mas que aquilo que o analista diz ao analisando só produz um efeito no mesmo quando esta interpretação coaduna com o que é real no paciente. Ou seja, a interpretação precisa ter um sentido para o analisando. Além disso, Freud fala que deve ser posto um fim aos êxitos imediatos durante o tratamento, uma vez que de fato eles são consequência da transferência, e que esta constitui uma diferença fundamental entre a terapia analítica e a terapia meramente sugestiva, uma vez que a psicanálise entende este êxito imediato como uma resistência.  Portanto, a eficácia do método interpretativo se dá a partir da superação das resistências.


Em seguida, descreve a cura com fórmulas da libido. Segundo ele, em situações saudáveis, o ego deveria ter a libido à sua disposição. Não é o que acontece, entretanto, com a libido do neurótico, que não se dirige a nenhum objeto real e está sob repressão, algo que demanda muita energia. Neste caso, o sintoma é a única satisfação da libido. A partir disso, a tarefa terapêutica seria remontar a origem dos sintomas para então liberar libido de suas ligações atuais e torna-la novamente utilizável pelo ego.


O trabalho, então, consistiria em duas fases: a primeira seria retirar a libido dos sintomas e esta seria colocada na relação transferencial. A segunda fase, seria a luta pelo novo objeto. A transferência possibilitaria o aparecimento de novas edições do conflito, ocorrendo uma doença transferencial que recebe o investimento que antes era dirigido ao sintoma. Mesmo nesta nova modulação, a libido tentaria chegar ao mesmo resultado. Entretanto, caberia ao analista reconduzi-la a outro rumo. Quando há êxito nesta tarefa, a libido é liberada do objeto temporário e não volta ao original, ficando à disposição do ego. Este se amplia e se concilia com ela, podendo então conceder-lhe satisfação. Ao final desta conferência, é feita uma comparação entre os sujeitos que Freud considera sadios e os que considera neuróticos. Para ele, os únicos sintomas da pessoa sadia seriam os sonhos (outras formações do inconsciente também podem fazer parte desses ‘sintomas’ que as pessoas normais produzem, como os atos falhos e os chistes). Ressalta ainda que a resistência externa atrapalha o tratamento e recomenda aceitar somente pacientes que não dependam de terceiros.


Escrito por Fernanda Bonilha e Fernanda Capuano 


Revisado por Antônio Almeida e Eduardo Zaidan.

Equipe da Monitoria de Psicanálise da PUC de São Paulo.