terça-feira, 23 de março de 2010

fantasias originárias

Para que possamos compreender melhor as idéias que giram em torno das fantasias originárias, vamos nos voltar à idéia do que seja fantasia para a psicanálise e seus desdobramentos nos escritos de Freud.
Fantasia é um roteiro em que o indivíduo está presente e nos remete a intenção de realização de um desejo. Porém, a fantasia representa tal desejo de uma maneira deformada; deformada por processos defensivos. Ao usarmos o termo ‘fantasia’ temos, portanto, em mente a dicotomia imaginação e realidade.
Podemos detectar, mesmo implicitamente no pensamento de Freud, três níveis de fantasia:

• fantasia consciente
• fantasia inconsciente
• fantasia subliminar

As fantasias conscientes podem ser conhecidas também como sonhos diurnos. Tais fantasias correspondem a cenas, episódios, romances, ficções, enfim, conteúdos que o indivíduo constrói e conta para si mesmo no estado de vigília.
As fantasias inconscientes são aquelas ligadas ao desejo inconsciente e que estão na gênese do processo de formação de um sonho.
As fantasias que podem ser consideradas subliminares são aquelas que podem ser consideradas como um devaneio subliminar, pré-consciente, sobre o qual se pode, ou não, ter consciência.

Mas, e as fantasias originárias?

Há fantasias que levaram Freud a considerar a existência de esquemas inconscientes que transcendem a vivência individual. Como assim? Isto é, que seriam transmitidas hereditariamente! Estas são as fantasias originárias.

Freud considera que existe um patrimônio transmitido filogeneticamente. As fantasias originárias são fantasias universais, comuns a todos os indivíduos, ou seja, que não se restringem a experiências pessoais. São compostas por estruturas fantasísticas típicas.
As estruturas fantasísticas típicas são:

• vida intra-uterina
• cena originária
• sedução
• castração

Todos esses temas têm uma característica comum: todos se referem às origens dos indivíduos (imanentes a todos os seres humanos). Na cena originária, é a origem do sujeito; na fantasia de sedução, é a origem do aparecimento da sexualidade; nas fantasias de castração é a origem da diferença entre os sexos.

domingo, 14 de março de 2010

Definições: Pulsão, Pulsão de Vida, Pulsão de Morte, Princípio de Nirvana, Princípio de Prazer, Princípio de Realidade

PULSÃO


• Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua meta.


Na língua alemã existem dois termos, Instinkt (instinto) e Trieb (pulsão). O termo Trieb, de uso muito antigo, conserva sempre a nuança de impulsão, ou seja, há menos ênfase numa finalidade definida do que numa orientação geral, sublinhando o caráter irreprimível da pressão mais do que a fixidez da meta e do objeto.

Já o termo Instinkt faz referência ao biológico, ou seja, àquilo que é expresso quase da mesma forma em todos os indivíduos da mesma espécie. Freud utiliza este termo para se referir a um comportamento animal fixado por hereditariedade.

A pulsão é uma representante do somático e do psíquico, pois ao lado das excitações externas a que o indivíduo pode fugir ou de que pode proteger-se, existem forças internas (pulsões) portadoras constantes de um afluxo de excitação a que o organismo não pode escapar e que é o fator propulsor do funcionamento do aparelho psíquico. A pulsão não tem meta e nem objeto fixo, ela é variável e parcial

Freud propõe duas teorias das pulsões e ambas são dualistas. Na primeira teoria das pulsões, o dualismo se dá entre pulsões sexuais vs pulsões do ego ou de autoconservação. O id representa um reservatório de pulsões e a contraposição se dá entre pulsões de vida vs pulsões de morte.

PULSÕES DE VIDA


• Grande categoria das pulsões que Freud contrapõe, na sua última teoria, às pulsões de morte. Tendem a constituir unidades cada vez maiores, e a mantê-las. As pulsões de vida, também designadas pelo termo “Eros”, abrangem não apenas as pulsões sexuais propriamente ditas, mas ainda as pulsões de autoconservação.


Na segunda teoria das pulsões proposta por Freud, as pulsões de vida se opõem as pulsões de morte. As primeiras tendem não apenas a conservar as unidades vitais existentes, como a constituir, a partir destas, unidades mais globalizantes. As segundas tendem para a destruição das unidades vitais, para a igualização radical das tensões e para o retorno ao estado anorgânico que se supõe ser o estado de repouso absoluto.

As pulsões de vida não têm o caráter regressivo característico das pulsões, mas sim um caráter construtivo, uma vez que um princípio fundamental de tal pulsão é o princípio de ligação, que consiste em instituir unidades cada vez maiores e conservá-las, princípio este que está associado a nova concepção de Freud sobre a sexualidade.

PULSÕES DE MORTE


• No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida e que tendem para a redução completa das tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgânico.
Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição, as pulsões de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se então sob a forma da pulsão de agressão ou de destruição.


As pulsões de morte representam a tendência fundamental de todo ser vivo a retornar a um estado anorgânico. Freud elaborou o conceito de pulsões de morte ao observar os fenômenos de repetição, que o levou a idéia do caráter regressivo da pulsão. Em tais fenômenos de repetição, o aparelho psíquico não apenas descarregava a libido, mas a libido estava relacionada a situações desagradáveis.

A exigência dualística é particularmente importante quando se trata das pulsões, já que estas fornecem as forças que se enfrentam no conflito psíquico. Freud sublinhou que a tendência a destruição de outrem ou de si mesmo pode denotar uma satisfação libidinal. Observou também que as manifestações do masoquismo, a reação terapêutica negativa e o sentimento de culpa dos neuróticos indicam a presença na vida psíquica de um poder que chamou de pulsões de agressão ou destruição, derivadas da pulsão de morte originária.

As pulsões de morte representam um retorno a um estado anterior, ou, em última análise, o retorno ao repouso absoluto do anorgânico. O princípio de prazer parece estar a serviço da pulsão de morte.



PRINCÍPIO DE NIRVANA


• Denominação proposta por Barbara Low e retomada por Freud para designar a tendência do aparelho psíquico para levar a zero ou pelo menos para reduzir o mais possível nele qualquer quantidade de excitação de origem externa ou interna.


A idéia de Nirvana representa o aniquilamento ou extinção do desejo humano, levando o aparelho psíquico a um estado de quietude e felicidade perfeita. O Princípio de Nirvana corresponde a uma tendência do ser humano de retornar a um estado anterior, um estado de homeostase, no qual ocorreria a supressão de uma excitação interna ou externa, ou seja, os seres humanos tenderiam a chegar em um estado anorgânico.

O Princípio de Nirvana exprime a tendência da pulsão de morte, ou seja, a tendência radical para levar a excitação ao nível zero.

PRINCÍPIO DE PRAZER


• Um dos dois princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental: a atividade psíquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. É um princípio econômico na medida em que o desprazer está ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à sua redução.


O aparelho psíquico é regido pela evitação ou evacuação da tensão desagradável. A escala de prazer-desprazer é um regulador da economia libidinal. Freud considera a descarga de tensão como prazer e o aumento desta como desprazer. Contudo, Freud ressalva que sentimento de tensão não é o mesmo que desprazer, pois existem tensões agradáveis.

O princípio de prazer se opõe ao princípio de realidade. Um exemplo de tal oposição é realizar um desejo, pois a realização de um desejo inconsciente, regido pelo princípio de prazer, se depara com o princípio de realidade, que representa as exigências do mundo externo.

PRINCÍPIO DE REALIDADE


• Um dos princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental. Forma par com o princípio de prazer, e modifica-o; na medida em que consegue impor-se como princípio regulador, a procura de satisfação já não se efetua pelos caminhos mais curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior.
Encarado do ponto de vista econômico, o princípio de realidade corresponde a uma transformação da energia livre em energia ligada; do ponto de vista tópico, caracteriza essencialmente o sistema pré-consciente-consciente; do ponto de vista dinâmico, a psicanálise procura basear a intervenção do princípio de realidade num certo tipo de energia pulsional que estaria mais especialmente a serviço do ego.

O princípio de realidade surge como uma necessidade do psiquismo de descarregar a tensão pulsional não de uma maneira alucinatória, mas a partir das condições que o mundo oferece. Assim, já não se representa o que é agradável, mas sim o que é real, mesmo que seja desagradável. O princípio de realidade sucede o princípio de prazer, contudo, o princípio de prazer não desaparece, só se torna o oposto do princípio de realidade.

O princípio de prazer é o campo das atividades psíquicas, entregue as fantasias inconscientes. Já o princípio de realidade corresponde a obtenção de satisfação no plano da realidade. Cabe ao ego mediar e garantir a supremacia do princípio de realidade sobre o princípio de prazer. Nas palavras de Freud: “[o ego] consegue discernir se a tentativa de obter satisfação deve ser efetuada ou adiada, ou se a reivindicação da pulsão não deverá ser pura e simplesmente reprimida como perigosa.”

Roteiro texto de apoio: Fantasias Originárias e teorias sexuais infantis - Trauma, Amor e Fantasia, de Franklin Goldgrub

Para que possamos compreender melhor as idéias que giram em torno das fantasias originárias, vamos nos voltar à idéia do que seja fantasia para a psicanálise e seus desdobramentos nos escritos de Freud.
Fantasia é um roteiro em que o indivíduo está presente e nos remete a intenção de realização de um desejo. Porém, a fantasia representa tal desejo de uma maneira deformada; deformada por processos defensivos. Ao usarmos o termo ‘fantasia’ temos, portanto, em mente a dicotomia imaginação e realidade.
Podemos detectar, mesmo implicitamente no pensamento de Freud, três níveis de fantasia:

• fantasia consciente
• fantasia inconsciente
• fantasia subliminar

As fantasias conscientes podem ser conhecidas também como sonhos diurnos. Tais fantasias correspondem a cenas, episódios, romances, ficções, enfim, conteúdos que o indivíduo constrói e conta para si mesmo no estado de vigília.
As fantasias inconscientes são aquelas ligadas ao desejo inconsciente e que estão na gênese do processo de formação de um sonho.
As fantasias que podem ser consideradas subliminares são aquelas que podem ser consideradas como um devaneio subliminar, pré-consciente, sobre o qual se pode, ou não, ter consciência.

Mas, e as fantasias originárias?
Há fantasias que levaram Freud a considerar a existência de esquemas inconscientes que transcendem a vivência individual. Como assim? Isto é, que seriam transmitidas hereditariamente! Estas são as fantasias originárias.

Freud considera que existe um patrimônio transmitido filogeneticamente. As fantasias originárias são fantasias universais, comuns a todos os indivíduos, ou seja, que não se restringem a experiências pessoais. São compostas por estruturas fantasísticas típicas.
As estruturas fantasísticas típicas são:

• vida intra-uterina
• cena originária
• sedução
• castração

Todos esses temas têm uma característica comum: todos se referem às origens dos indivíduos (imanentes a todos os seres humanos). Na cena originária, é a origem do sujeito; na fantasia de sedução, é a origem do aparecimento da sexualidade; nas fantasias de castração é a origem da diferença entre os sexos.

Roteiro de questões: Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Parte III, volume XVI (1917)- O desenvolvimento da libido e das organizações sexuais

Estas questões têm o objetivo de esmiuçar o texto o máximo possível. Esperamos ter conseguido ser bem sucedidos nesta proposta. Fiquem a vontade para nos mandar a resposta para discutirmos ou perguntar dúvidas. Ficaremos felizes em respondê-las. Esperamos que este roteiro de perguntas os ajude!

1 – Comecemos definindo o que é perversão. O que pode ser definido como perversão, para Freud?

2 – Freud inicia seu texto pontuando acerca de alguns estudos dentro do campo da psicanálise que foram decisivos para sua teoria madura da sexualidade. Qual é a postura de Freud quanto ao conhecimento biológico da sexualidade? De que maneira o estudo da perversão permite Freud afirmar que sexualidade e reprodução não coincidem? Se preferir, explique utilizando a analogia do “psíquico” e do “consciente” utilizado por Freud (pp. 325-326).

3 – Leia atentamente os excertos:

“No Monte de Vênus, esqueceu honra e dever! Coisa estranha, algo assim a nós não acontecer.” (Landgraf. s/d, Trad. Por Nestroy, pp. 305).

“Uma reflexão tranqüila mostrará que um ou outro traço de perversão raramente está ausente da vida sexual das pessoas normais.” (Freud, pp.326).

“Pode-se alegar que até mesmo um beijo seria considerado um ato pervertido (...). No entanto, ninguém o rejeita [o sujeito] como pervertido; pelo contrário, é permitido” (Freud, pp. 326-327)

Estes trechos exemplificam certa postura das pessoas ditas normais com relação ao perverso. Explique esta postura, e a seguir, esboce uma crítica a ela. Depois, esboce também um pequeno texto para refletir quais são os limites da normalidade e quais são os limites da perversão para a época de Freud.

4 – Sabemos que a sexualidade infantil é perversa. Entretanto, Freud vê diferenças na sexualidade perversa adulta para a sexualidade infantil. Disserte sobre as semelhanças e diferenças da sexualidade perversa adulta, a sexualidade adulta dita normal e a sexualidade infantil.

6 – Leia atentamente este excerto:

“Como sabem, dizemos serem sexuais as atividades imprecisas e indefiníveis do início na infância, porque, no decurso da análise, chegamos a elas a partir dos sintomas, após examinarmos material indiscutivelmente sexual.” (Freud, pp. 329)

Primeiro, defina sexualidade infantil, procurando explicar, assim, porque é possível dizer que ela existe na infância. Em seguida, com base neste trecho, discorra sobre a resignificação da sexualidade infantil na sexualidade adulta, buscando explorar também o que as diferencia.

7 – Como explicar a amnésia infantil que se instaura no sujeito posteriormente ao período de latência? Aqui, apresente a diferença do recalque primário para o recalque secundário, mostrando a importância do Superego no processo.

8 – Explique a organização pré-genital anal-sádica e oral do sujeito. (Para tanto, tente incluir na resposta menções às implicações do contraste “ativo”/”passivo” para a sexualidade adulta e ao uso da genitália no período – para a organização anal-sádica – e sobre a zona erógena da boca – para a organização oral. Pontue também a ordem em que estas organizações se dão).

9 – A sexualidade infantil é regida ou não pelo princípio do prazer? Apresente seus argumentos.

10 – Sabemos que a sexualidade infantil é essencialmente narcísica, auto-erótica e, portanto, anobjetal. Como pensar o seio materno, que não deixa de ser um objeto, dentro deste contexto?

11 – Reflita e argumente sobre qual é o principal impacto que a tragédia Édipo Rei de Sófocles causa em seus espectadores. Para tanto, leia qual foi o comentário de Freud sobre este impacto, que pode ser encontrado na pp. 335.

12 – “Se o pequeno selvagem fosse abandonado a si mesmo, mantendo toda sua loucura, e juntasse ao pouco de discernimento de uma criança de berço as violentas paixões do homem de trinta anos, ele estrangularia seu pai e se deitaria com sua mãe” (Diderot, s/d, Trad. para o alemão de Goethe).

Com base na frase de Diderot, explique, muito brevemente, a dinâmica edípica de pai, mãe e filho. Explique também como esta dinâmica fica com a entrada de irmãos e irmãs.
13 – Explique brevemente o processo de escolha objetal do sujeito tendo como base o complexo de Édipo. Responda utilizando o conceito de identificação.
14 – Explique também o processo de socialização do sujeito tendo como base o complexo de Édipo. Responda utilizando os conceitos de Superego e ideal de eu.
15 – Esboce uma justificativa para a afirmação de Freud: “o complexo de Édipo pode ser justificadamente considerado como o núcleo central das neuroses” (pp.341).
Recomendamos, também, para complementar a leitura:
- o capítulo “A evolução da libido” do livro Freud: trama dos conceitos de Renato Mezan;
- o capítulo “Fantasias originárias e teorias sexuais infantis: o inconsciente do inconsciente” do livro Trauma, amor de fantasia de Franklin Goldgrub.
- Vocabulário de Psicanálise, de Laplanche & Pontalis.

Quem somos

Somos alunos de Graduação em Psicologia na PUC-SP. Como monitores de Psicanálise, ajudamos os alunos na leitura e na compreensão dos textos de Freud. Também elaboramos resumos dos textos requeridos nas disciplinas Psicanálise I, II e III, os quais podem ser encontrados neste blog. Todo o material postado aqui é de autoria dos próprios monitores. Estamos à disposição dos alunos para marcar encontros e discussões (contato: monitoriasp@yahoogroups.com). Nosso trabalho é supervisionado pela Profa. Paula Peron.