sexta-feira, 14 de março de 2014

Resumo do texto “O Sentido os Sintomas”, Freud – 1916

Texto O sentido dos sintomas – Sigmund Freud
Freud inicia o texto contrapondo a abordagem psiquiátrica e psicanalítica quanto ao modo de olhar o sintoma. A partir das experiências de observação da histeria feitas por Janet e Breuer, o autor aponta que para a psicanálise tanto os sintomas quanto as parapraxias e os sonhos têm um sentido que se relaciona com as experiências de cada sujeito. Nesse texto, Freud se atem a exemplos da neurose obsessiva, pois, para ele, ao contrário do que acontece na neurose histérica, os sintomas revelam de modo mais explícito o quão particular são, além de apresentarem poucos ou nenhum fenômeno somático, permanecendo circunscritos ao âmbito mental.
Freud define que a manifestação da neurose obsessiva se revela quando o paciente se ocupa de pensamentos que não lhe interessam ou importam – ou seja, pensamentos cuja significação é nula –, mas que, no entanto, permanecem ativos na vida do mesmo, que se obriga constantemente a remoê-los como se fossem de grande importância. Ele também revela que os atos obsessivos são sempre precauções ou fuga de impulsos graves, como, por exemplo, o cometimento de crimes. Além disso, também a dúvida, que se apresenta acompanhada de extrema indecisão e restrição de liberdade, é um sintoma presente na neurose obsessiva. Cabe ao analista tentar compreendê-los e interpretá-los.
A seguir, Freud ilustra sua explicação sobre a neurose obsessiva com dois exemplos. O primeiro se trata do caso de uma senhora que possuía um ritual de correr de um quatro ao outro e, ao chegar ao novo aposento, e ficar próxima a uma mesa enquanto chamava a empregada para lhe mostrar uma mancha vermelha na toalha.
Neste exemplo, o sentido do ato obsessivo da senhora foi parcialmente descoberto pela mesma ao identificar semelhanças do ritual com sua noite de núpcias, na qual seu marido havia ficado impotente. Freud interpreta então, que o ato obsessivo da mulher era uma tentativa de proteger seu marido de comentários maldosos além de desculpá-lo e engrandecê-lo, podendo ter uma vida tranquila e evitando tentações fora do casamento.
O segundo exemplo trata-se da necessidade de absoluto silêncio exigido por uma jovem ao deitar-se para dormir, o que se transformava em um verdadeiro ritual. Ela exigia que a porta de seu quarto e a dos pais permanecesse entreaberta, além de possuir especificações com a sua cama e travesseiros. A partir das associações feitas pela paciente em diversas oportunidades, Freud interpreta seus atos, relacionando-os com questões da vida sexual da jovem que envolvia uma forte tensão entre os pais e a moça.
Freud ressalta que os sintomas, assim como os sonhos, têm um sentido que se relaciona com as experiências do paciente, e que, desvenda-lo, não é uma tarefa simples, pois exige um longo processo de investigação sobre a história de cada sujeito.

Elaborado pela equipe da Monitoria de Psicanalise – Curso de Psicologia – FACHS – PUC/SP – abril/2015

segunda-feira, 10 de março de 2014

Psicanálise e Psiquiatria (S. Freud, Conf. XVI, Vol. XVI, 1916-17)

Neste texto, Freud afirma que irá apresentar à plateia algumas conclusões psicanalíticas acerca da neurose, que (diferentemente dos sonhos e das parapraxias) é um campo pouco familiar à maior parte das pessoas.

Logo no início do texto, Freud coloca a psicanálise como uma ciência empírica, capaz de realizar “acuradas observações a partir da fala dos neuróticos”. Segundo ele, um conceito psicanalítico não é especulativo—pelo contrário, é expressão direta de “observações ou do trabalho exaustivo das mesmas”. Também declara que há mudanças no pensamento psicanalítico, sempre que o progresso dessa ciência lhe permite novas conclusões, e que essas mudanças são sempre comunicadas, explicitadas.

Freud parte, então, para uma apresentação da visão psicanalítica acerca das neuroses. Utiliza-se de um exemplo clínico de ação sintomática, a fim de mostrar que, em seu entendimento, esta possui um motivo, um sentido, e uma intenção (ainda que isso seja muitas vezes oculto a quem emite esta ação).

A ação sintomática, que descreve a fim de elucidar essas afirmações, consiste em um paciente não fechar completamente a porta entre seu consultório e a sala de recepção vazia. Segundo Freud, isso decorre do desapontamento sentido pelo paciente ao encontrar a sala vazia e mobilhada de maneira simples, o que não corresponde às expectativas e esperanças que o paciente deposita no tratamento psicanalítico. Não fechar a porta teria o mesmo sentido de se afirmar “não chegará ninguém” (neste consultório pouco movimentado). Para Freud, essa ação se situa em um contexto psicológico específico do paciente e lhe é inconsciente.

A seguir, Freud relata o caso de uma paciente que possuía um sintoma de ciúmes aparentemente injustificado. No dia seguinte após comentar com sua empregada que descobrir uma traição do marido lhe seria um evento extremamente desagradável, esta senhora recebe uma carta anônima acusando seu marido desta exata conduta adúltera. Apesar de perceber que muito provavelmente a carta faz parte de uma armação planejada por sua empregada, a paciente desenvolve um delírio de ciúmes, desconfia do marido, briga com ele e sente um desconforto psicológico agudo. Em poucas sessões de análise, Freud percebe como seu sintoma refletia, na verdade, os desejos adúlteros desta própria senhora, que estava encantada por um rapaz mais jovem, casado com uma de suas filhas. “Se ao menos não somente ela, a senhora idosa, estivesse apaixonada por um homem jovem, mas também seu idoso marido estivesse mantendo um caso amoroso [...] então sua consciência se aliviaria [...]”. Esse processo, contudo, lhe é latente, involuntário.

Freud mostra, assim, que o delírio dessa paciente não é absurdo, mas possui motivação e sentido, além de ser “necessário como reação a um processo mental inconsciente”. Segundo ele, o sintoma “ajustou-se ao contexto de uma experiência emocional da paciente”.

Em seguida, Freud afirma que, para a psiquiatria, as ações sintomáticas se dão casualmente, e os sintomas seriam resultado de predisposições familiares. Ao se deparar com o sintoma, o psiquiatra procura identificar o aspecto essencial do mesmo (no caso clínico relatado, o delírio de ciúmes), mas não se aproxima de seu conteúdo. Afirmaria que certo tipo de sintomas é mais comum em pessoas cuja família apresenta histórico de sintomas semelhantes (hereditariedade). Os psiquiatras buscam, então, provir um diagnóstico e um prognóstico para o paciente.

Freud não descarta a importância da psiquiatria, mas questiona se o fator hereditário deveria contradizer a importância da experiência. Para ele, psiquiatria e psicanálise podem se suplementar. E apenas já não o fazem, não por causa de uma oposição da psiquiatria, mas dos psiquiatras.

A partir do caso relatado, conclui-se que o delírio tinha, de fato, um sentido. Ele era necessário como reação a um processo mental inconsciente (ele era uma espécie de consolação). E o fato do delírio ter se apresentado como delírio de ciúme, em vez de qualquer outro tipo, indica a determinação da experiência que existe por trás da doença. Apesar da compreensão profunda do mecanismo dos sintomas, Freud afirma que a psicanálise, naquele momento, não seria capaz de influenciar os delírios. A psicanálise, assim como qualquer outra forma de terapia, encontra-se impotente nesses casos. Isso, porém, não rejeita a importância da análise e da pesquisa nesses casos, mesmo considerando que não haverá qualquer efeito benéfico imediato.




Elaborado por Eduardo Zaidan e Mario Otero Filho,
da equipe de monitores de Psicanálise da PUC-SP.